Trata-se de duas fotografias de placas informativas, tiradas na praia da Ericeira por alguém que também se indignou ao lê-las.
A Junta de Freguesia da Ericeira, num louvável esforço para preservar a limpeza das suas praias, coloca os animais na mesma categoria que o lixo e o fumo do tabaco, servindo-se de adoráveis desenhos de crianças para demonstrar o desagrado dos veraneantes quando estes factores se encontram presentes e a sua alegria quando nem lixo, nem tabaco, nem animais fazem parte da paisagem. Lamentável, embora compreensível num país onde os animais de estimação continuam a ser largamente vistos como "coisas" sujas e perturbadoras, que as autarquias delegam no departamento de higiene e limpeza e cujo acesso a diversos locais públicos se encontra vedado. Em vez de se sensibilizar os donos para a necessidade de educarem os seus animais, fazerem uso da trela, recolherem os seus dejectos, etc., simplesmente proíbe-se a entrada aos animais. A solução mais fácil e rápida, talvez. Mas desrespeitadora da dignidade dos animais e altamente incómoda para os donos conscientes e respeitadores que fazem questão de se fazer acompanhar dos seus amigos de quatro patas em locais onde sabem que estes não causariam a mínima perturbação.
Na Ericeira, não só se recorre a essa solução facilitista, triste e retrógrada, como ainda se faz questão de instruir as crianças nesse sentido. Para que desde cedo interiorizem a visão de que os animais são coisas - coisas a que até podemos dar alimento e abrigo, com quem podemos brincar e passear, mas coisas nojentas que não queremos ter por perto na praia, no restaurante ou no jardim. E a Junta de Freguesia da Ericeira vai mais longe: faz dos alunos da EB 1 da Ericeira (isto é, crianças até aos 10 anos) vigilantes atentos, pequenos delatores prontos a fotografar e denunciar os criminosos que tenham o descaramento de passear na praia com os seus cães - mesmo que de trela, sem incomodar ninguém e recolhendo os eventuais dejectos.
Não é este o caminho que o Partido Pelos Animais pretende apontar aos adultos de amanhã. Situações como a presente, ao mesmo tempo que nos entristecem pela percepção de quanto ainda há a evoluir, dão-nos mais forças para avançar, pelo reconhecimento de que quem lamenta a realidade em que vive tem a obrigação de lutar para transformá-la.